Suplementação de ferro para o tratamento da anemia ferropriva em crianças e adolescentes
Durante a infância e a adolescência, a necessidade aumentada de ferro, devido ao crescimento acelerado, torna os indivíduos especialmente propensos a desenvolver anemia ferropriva. Essa deficiência pode afetar o desenvolvimento cognitivo, emocional e motor, com consequências que podem persistir mesmo após a correção do quadro.
Do ponto de vista da prática ortomolecular, o diagnóstico precoce e o tratamento individualizado são essenciais. A suplementação oral permanece eficaz quando a absorção intestinal é adequada, enquanto a suplementação intravenosa é reservada para casos mais graves ou para pacientes com baixa tolerância digestiva.
As formas orgânicas de ferro oferecem melhor absorção e menor toxicidade, mas o alto custo ainda limita seu uso em comunidades vulneráveis. Em contraste, as formas inorgânicas, como fumarato (33% de ferro elementar), sulfato (20%) e gluconato ferroso (12%), são mais acessíveis e amplamente utilizadas. As evidências sobre a dosagem e a duração do tratamento para anemia ferropriva variam conforme o contexto. Em países de baixa renda, onde as deficiências nutricionais são mais comuns, são necessários tratamentos mais longos; já em locais com melhor infraestrutura de saúde, as infusões intravenosas tornam-se uma alternativa terapêutica eficaz.
Uma revisão sistemática publicada em 2025, que incluiu 28 estudos de 16 países, totalizando 8.829 crianças e adolescentes entre 1 mês e 19 anos de idade, avaliou as doses e a duração ideais da suplementação de ferro em casos de anemia ferropriva não complicada. Vinte e quatro desses estudos utilizaram sulfato ferroso, enquanto os quatro restantes empregaram complexos como polimaltose férrica ou carboximaltose férrica.
Países de baixa e média renda tenderam a utilizar doses mais altas (5–10 mg/kg/dia) e tratamentos mais prolongados, frequentemente excedendo seis meses. Em contraste, países de alta renda optaram por doses mais baixas (<5 mg/kg/dia), buscando reduzir efeitos adversos, como desconforto gastrointestinal, e geralmente aplicaram tratamentos com duração inferior a três meses.
Após o ajuste para variáveis que podem influenciar a resposta terapêutica — como idade, ambiente (urbano ou rural), via de administração (oral ou parenteral), hemoglobina basal, sexo, dose e duração — observou-se que a suplementação por menos de três meses foi associada a um aumento significativo nos níveis de hemoglobina (coeficiente: 5,32; IC 95%: 0,23 a 10,41; p = 0,04), assim como o tratamento por mais de seis meses (coeficiente: 5,28; IC 95%: 0,47 a 10,41; p = 0,03). Curiosamente, uma duração intermediária entre três e seis meses foi associada a uma redução significativa no efeito terapêutico (coeficiente: -2,66; IC 95%: -5,20 a -0,11; p = 0,04).
Em termos absolutos, a maior melhora nos níveis de hemoglobina foi observada em tratamentos com duração inferior a três meses, com um aumento médio de 2,39 g/dL (IC 95%: 0,72–4,07; p < 0,001).
O nível inicial de hemoglobina apresentou correlação inversa com a resposta ao tratamento: para cada aumento de uma unidade na Hb basal, a melhora média diminuiu em 0,28 unidades (β = -0,28; p = 0,36), reforçando o conceito de “efeito teto”, em que pacientes com anemia mais grave tendem a se beneficiar mais.
Entre as opções intravenosas, a carboximaltose férrica apresentou bons resultados (1,45 g/dL) com baixa variabilidade entre os estudos. Já nas formulações orais, o sulfato ferroso foi o mais eficaz e consistente (2,03 g/dL; IC 95%: 1,24–2,82; p < 0,001), enquanto o ascorbato ferroso e outros compostos também demonstraram melhorias, embora com maior variabilidade nos resultados.
Essas descobertas sugerem que a combinação de suplementação em baixa dosagem, associada a períodos de tratamento mais curtos ou mais longos, adaptados a cada paciente, pode otimizar a resposta hematológica e melhorar os níveis de hemoglobina.
Referência:
Rehman T, Agrawal R, Ahamed F, Das S, Mitra S, Kumar D, Sethy C, Kanungo S, Bhattacharya D, Pati S. Optimal dose and duration of iron supplementation for treating iron deficiency anaemia in children and adolescents: A systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2025 Feb 14;20(2):e0319068. doi: 10.1371/journal.pone.0319068. PMID: 39951396; PMCID: PMC11828412.
🔗 https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11828412/