Suplementação com ômega-3 e estado nutricional em pacientes com neoplasias pancreáticas
O câncer de pâncreas representa cerca de 2,6% de todos os novos casos de câncer, tanto em homens quanto em mulheres. Trata-se da sétima principal causa de mortes relacionadas ao câncer em ambos os sexos, sendo responsável por 4,7% de todas as mortes por neoplasias, o que equivale a mais de 466 mil óbitos anuais em todo o mundo.
Um dos problemas mais graves associados a essa doença é a significativa perda de peso dos pacientes, que, em média, supera 10% do peso corporal em um período de seis meses. Como consequência, mais da metade desses indivíduos desenvolve desnutrição, podendo evoluir para caquexia — condição caracterizada por perda extrema de massa muscular e, em alguns casos, também de tecido adiposo.
Sob a perspectiva da medicina ortomolecular, é essencial abordar esses desequilíbrios nutricionais de forma integrada, uma vez que a caquexia no câncer pancreático está fortemente relacionada à produção de citocinas pró-inflamatórias e proteínas de fase aguda pelas células tumorais. Essas substâncias desencadeiam processos como proteólise e lipólise, que promovem a degradação do músculo esquelético e do tecido adiposo.
Além disso, o pâncreas é um órgão essencial para a digestão, sendo responsável pela produção de enzimas que auxiliam na absorção de nutrientes. O comprometimento de sua função, aliado à agressividade dos tratamentos oncológicos, agrava os distúrbios metabólicos, elevando ainda mais a demanda nutricional do organismo.
Nesse contexto, a medicina ortomolecular oferece estratégias valiosas no enfrentamento dos efeitos da caquexia. A suplementação com ácidos graxos ômega-3 — especialmente o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA) — tem sido empregada como abordagem preventiva e terapêutica. Esses ácidos graxos reduzem a produção de eicosanoides inflamatórios e citocinas como IL-6 e IL-8, além de inibirem a ativação do fator de transcrição NF-κB, mecanismos diretamente relacionados à inflamação e à perda de massa muscular.
Estudos demonstram que a suplementação com ômega-3 não apenas contribui para a redução da inflamação sistêmica, como também melhora o apetite dos pacientes, promovendo aumento de peso e melhora da composição corporal em casos de caquexia.
Embora a evidência sobre o papel específico do ômega-3 no estado nutricional de pacientes com câncer de pâncreas ainda seja limitada, uma revisão sistemática recente apresentou resultados promissores. Foram analisados oito estudos envolvendo 588 pacientes com idades entre 50 e 78 anos. Desses, cinco eram ensaios clínicos randomizados e três quase-experimentais. As intervenções incluíram suplementação com ômega-3 em diferentes formas — cápsulas e suplementos líquidos —, com doses de EPA variando entre 300 mg e 6 g por dia. Três desses estudos também incluíram DHA, com doses entre 0,92 g e 0,96 g por dia. A duração das intervenções variou entre 1 e 12 semanas, abrangendo pacientes com câncer de pâncreas ressecável e irressecável.
Entre os estudos que avaliaram o aumento ou a manutenção do peso corporal, seis apresentaram resultados positivos. Quatro deles utilizaram suplementos dietéticos enriquecidos com proteínas, energia e ácidos graxos ômega-3, o que pode ter potencializado os efeitos sobre o ganho de peso. Em um dos ensaios clínicos, com suplementação de 0,92 g de DHA além do EPA, foi observada diferença significativa no padrão de perda de peso entre os grupos (p = 0,0001). O grupo suplementado apresentou ganho médio de 1 kg, enquanto o grupo controle teve perda média de 2,8 kg. Outro estudo, com 0,96 g de DHA, mostrou ganho médio de peso de 1,0 kg (intervalo interquartil: 0,1 a +2,0; p = 0,024) em relação ao valor basal, além de uma queda significativa na produção de IL-6.
Os estudos que utilizaram cápsulas de ômega-3 também demonstraram efeitos positivos. Um deles avaliou a perda de peso após seis semanas de tratamento, observando diferenças significativas em ambos os grupos quando comparados ao início (grupo intervenção: p = 0,001; grupo controle: p = 0,003). Já um quase-experimento com duração de 12 semanas registrou aumento médio de 0,5 kg no peso corporal, revertendo a tendência de perda registrada no início (p = 0,0009).
Apenas um estudo mensurou os níveis de IL-6, evidenciando uma queda significativa na concentração dessa citocina após a intervenção. Esses achados reforçam o potencial do ômega-3 em modular biomarcadores inflamatórios como IL-1, IL-6 e TNF-α, o que destaca seu efeito protetor sobre a atrofia muscular e a lipólise.
Dois estudos avaliaram os níveis de transferrina, e um deles apresentou resultados positivos. Os autores concluíram que as proteínas de fase aguda tendem a aumentar em pacientes não tratados, mas podem ser estabilizadas com a suplementação de óleo de peixe, resultando na preservação da massa muscular.
Em resumo, a suplementação com ômega-3 em pacientes com câncer de pâncreas mostra-se segura, bem tolerada e potencialmente benéfica, contribuindo para estabilização ou ganho de peso corporal, além de reduzir biomarcadores inflamatórios associados à progressão da doença e à perda de massa muscular.
Referência:
Pires LBC, Salaroli LB, Podesta OPG, Haraguchi FK, Lopes-Júnior LC. Omega-3 Supplementation and Nutritional Status in Patients with Pancreatic Neoplasms: A Systematic Review. Nutrients. 2024 Nov 26;16(23):4036. doi: 10.3390/nu16234036. PMID: 39683430; PMCID: PMC11643750.