Melhoria Cognitiva e Redução do Estresse com Ashwagandha Lipossomal em Indivíduos Saudáveis
A Ashwagandha (Withania somnifera), planta utilizada na medicina ayurvédica há mais de 3.000 anos, é amplamente reconhecida por suas propriedades adaptogênicas, ajudando a controlar o estresse, a ansiedade e os processos inflamatórios. No contexto da medicina ortomolecular, destacam-se ainda suas ações antioxidantes, anti-inflamatórias, neuroprotetoras, endocrinológicas e imunomoduladoras, que influenciam positivamente a função cognitiva.
Diversos estudos apontam que a suplementação com ashwagandha pode atenuar o comprometimento cognitivo associado a processos inflamatórios e neurodegenerativos, reforçando seu potencial terapêutico. Sua biodisponibilidade oral e capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica tornam-na um agente de interesse crescente na prática ortomolecular.
Na prática clínica, propõe-se que a suplementação com essa planta não apenas contribua para a saúde geral, mas também potencialize a função cognitiva. Há evidências sólidas de sua eficácia em populações com déficits cognitivos, incluindo pacientes com transtorno bipolar em tratamento, comprometimento cognitivo leve e estresse crônico. No entanto, os estudos envolvendo populações saudáveis ainda são limitados, o que representa uma oportunidade promissora de investigação.
Do ponto de vista fisiopatológico, a ashwagandha atua por diversos mecanismos: inibe a acetilcolinesterase, estimula a neurotransmissão e exerce efeitos neuroprotetores. Além disso, modula a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA), neurotransmissor inibitório cuja atuação é essencial no controle da ansiedade. Sua ação gabaérgica gera efeitos similares aos de ansiolíticos farmacológicos, reforçando seu uso na redução do estresse. Também promove a qualidade do sono, o que, aliado à sua ação ansiolítica, favorece melhorias na função cognitiva, especialmente em situações de estresse.
A planta também contribui para a redução do estresse oxidativo e da inflamação — dois fatores fortemente associados ao declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento. Essa ação protetora contra os danos oxidativos e inflamatórios cerebrais reforça seu papel na prevenção e tratamento do declínio cognitivo, uma preocupação crescente na medicina ortomolecular.
Em um ensaio clínico recente, avaliou-se o impacto da suplementação lipossomal de ashwagandha (225 mg/dia por 30 dias, com dose inicial aguda) sobre memória episódica, atenção, vigilância e função executiva em indivíduos saudáveis entre 18 e 60 anos. Foram aplicados testes cognitivos que incluíram avaliações de memória (reconhecimento de palavras e imagens, evocação tardia) e atenção (tempo de reação, teste de vigilância de dígitos). Sessenta participantes foram aleatoriamente distribuídos em dois grupos: placebo (PLA) e ashwagandha (ASH), com 30 indivíduos cada.
Os resultados indicaram que, após uma única dose de 225 mg, a ashwagandha melhorou a função cognitiva. Especificamente, observou-se melhora no tempo de reação ao reconhecimento de imagens, na identificação correta de alvos no teste de reação de escolha e na manutenção do desempenho no teste de Stroop. A análise multivariada revelou efeito significativo do tempo em vários testes cognitivos (p < 0,001), embora sem interação estatisticamente significativa entre grupos e tempo. Os testes de tempo de reação mostraram efeitos moderados (p < 0,05), incluindo resposta a palavras congruentes e incongruentes.
Após 30 dias de suplementação, os participantes do grupo ashwagandha demonstraram melhorias adicionais na evocação de palavras, tempo de reação no teste de observação de dígitos e desempenho no teste de Stroop. Os escores de tensão e fadiga no questionário POMS (Profile of Mood States) também diminuíram significativamente. A análise multivariada indicou reduções expressivas nos escores de tensão, fadiga, raiva e confusão (p < 0,001), com uma tendência de interação entre grupo e fadiga (p = 0,058). Os escores de fadiga foram significativamente menores no grupo ashwagandha em comparação ao placebo.
Conclusão:
Esses achados sugerem que a suplementação aguda e contínua com ashwagandha melhora significativamente a memória episódica, atenção, vigilância e função executiva, além de reduzir a tensão e a fadiga. Tais evidências reforçam a eficácia da ashwagandha no aprimoramento cognitivo e na regulação do humor em adultos saudáveis, sublinhando seu potencial terapêutico na medicina ortomolecular.
Referência:
Leonard M, Dickerson B, Estes L, Gonzalez DE, Jenkins V, Johnson S, Xing D, Yoo C, Ko J, Purpura M, Jäger R, Faries M, Kephart W, Sowinski R, Rasmussen CJ, Kreider RB. Acute and Repeated Ashwagandha Supplementation Improves Markers of Cognitive Function and Mood. Nutrients. 2024 Jun 8;16(12):1813. doi: 10.3390/nu16121813. PMID: 38931168; PMCID: PMC11207027.
🔗 https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11207027/