A suplementação de ômega-3 é eficaz no tratamento da osteoartrite?

A osteoartrite (OA) é uma doença articular degenerativa caracterizada pela destruição crônica da cartilagem, frequentemente desencadeada por lesões micro e macroscópicas que resultam em uma resposta pró-inflamatória. A patogênese da OA é multifatorial, sendo sua progressão influenciada por fatores como inflamação, traumas articulares, alterações metabólicas, e componentes biológicos e biomecânicos.

A inflamação da cartilagem resulta de um desequilíbrio de citocinas que favorece uma resposta pró-inflamatória, acelerando a progressão da doença. Além da sobrecarga mecânica, estudos recentes destacaram uma associação significativa entre OA e comorbidades metabólicas, como obesidade, diabetes e síndrome metabólica. A obesidade, em particular, aumenta a carga sobre as articulações de suporte, elevando progressivamente o risco de desenvolvimento da doença.

O tratamento da OA depende da articulação envolvida, da gravidade dos sintomas e das comorbidades do paciente. Frequentemente, são utilizados anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e analgésicos. No entanto, esses tratamentos não abordam os processos degenerativos subjacentes, além de apresentarem potenciais efeitos colaterais a longo prazo. Do ponto de vista da prática ortomolecular, tratamentos farmacológicos e físicos devem ser complementados por intervenções nutricionais que atuem na inflamação e na regeneração articular.

Suplementos nutricionais, como os ácidos graxos ômega-3, têm demonstrado benefícios na redução da inflamação, da dor e da rigidez articular, além de contribuírem para a regeneração da cartilagem. Pesquisas sobre o líquido sinovial na OA indicam que a inflamação da membrana sinovial mediada por citocinas contribui para a degradação da cartilagem.

Um estudo de coorte envolvendo 535 indivíduos com alto risco de OA no joelho examinou a relação entre a sinovite, a morfologia da cartilagem e os níveis plasmáticos de ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs). Os resultados mostraram uma associação inversa entre os níveis de PUFA n-3, especialmente o ácido docosahexaenoico (DHA), e a perda de cartilagem na articulação femoropatelar. Em concentrações plasmáticas mais elevadas de PUFA n-3, observou-se menor perda de cartilagem. O DHA, em particular, possui propriedades anti-inflamatórias que podem proteger a cartilagem e reduzir sua degradação.

Por outro lado, níveis elevados de PUFAs n-6, como o ácido araquidônico, mostraram correlação positiva com a sinovite, indicando uma relação entre maiores concentrações desses ácidos graxos e aumento da inflamação sinovial. O ácido araquidônico é um precursor de mediadores pró-inflamatórios, o que pode explicar sua contribuição para a exacerbação da inflamação e dos danos articulares.

Em relação à dor articular, um ensaio clínico multicêntrico randomizado avaliou os efeitos do óleo de krill em adultos com OA de joelho leve a moderada. O estudo incluiu 235 participantes entre 40 e 65 anos, com índice de massa corporal (IMC) entre 18,5 e 35 kg/m². Os indivíduos foram aleatoriamente designados para consumir 4 g de óleo de krill, contendo 0,60 g de EPA, 0,28 g de DHA e 0,45 mg de astaxantina, ou um placebo (óleo vegetal misto) diariamente por seis meses.

Os resultados mostraram um aumento significativo no índice de ômega-3 no grupo que consumiu óleo de krill (6,0% para 8,9%), enquanto o grupo placebo apresentou uma leve redução (5,5% para 5,4%, p < 0,001). O grupo que consumiu óleo de krill também apresentou melhorias significativas na dor no joelho, rigidez e função física em comparação com o placebo, com diferenças estatisticamente relevantes (p < 0,05).

Além disso, outros óleos comestíveis foram investigados. Em um estudo clínico com camundongos com OA induzida pela desestabilização do menisco medial, os efeitos do óleo de linhaça (LO), óleo de soja (SO) e óleo de amendoim (PO) foram comparados. As proporções de PUFA n-6/n-3 utilizadas foram 1:3,85 (LO), 9,15:1 (SO) e 372,73:1 (PO). Após 12 semanas de suplementação, os camundongos que receberam LO ou SO apresentaram maior espessura de cartilagem e redução nos níveis de TNF-α, enquanto nenhuma melhora significativa foi observada no grupo PO.

Em resumo, estudos indicam que a suplementação com PUFAs n-3, como o DHA, pode proteger contra a osteoartrite ao reduzir a inflamação sinovial e a perda de cartilagem. Essas propriedades anti-inflamatórias, observadas em humanos e modelos animais, ajudam a mitigar os efeitos negativos da sinovite e da degradação articular, melhorando sintomas como dor e rigidez. Por outro lado, altos níveis de PUFA n-6 estão associados ao aumento da inflamação, destacando a importância de equilibrar a ingestão desses ácidos graxos. Assim, o uso de suplementos ricos em PUFA n-3, como óleo de krill, linhaça ou soja, é uma estratégia promissora no manejo dietético da OA, podendo retardar sua progressão e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Referência:
Shawl M, Geetha T, Burnett D, Babu JR. Omega-3 Supplementation and Its Effects on Osteoarthritis. Nutrients. 2024 May 28;16(11):1650. doi: 10.3390/nu16111650. PMID: 38892583; PMCID: PMC11174396.

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