Própolis: um aliado natural na proteção gástrica causada pelos AINEs

No tratamento da dor e da inflamação, os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) continuam a ser a primeira escolha na medicina convencional. No entanto, esses medicamentos apresentam limitações devido aos seus efeitos colaterais, que afetam principalmente o trato gastrointestinal (GI). Estima-se que aproximadamente 40% da população e entre 20% e 30% dos usuários crônicos de AINEs apresentam complicações gastrointestinais, sendo notável que 13% dos casos de úlcera gástrica estão associados ao uso desses medicamentos.

Embora o estômago tenha capacidade de autorreparação contra diversos agravos como secreções gástricas, álcool e alimentos de diferentes temperaturas e osmolaridades, essa capacidade pode ser comprometida pelo consumo de AINEs, principalmente por inibir a reparação da camada mucosa exposta a fatores nocivos. Diante disso, diversas estratégias de tratamento são utilizadas, como o uso de inibidores da bomba de prótons (IBP), antagonistas dos receptores H2 (H2AR), medicamentos que estimulam a proliferação da barreira mucosa ou análogos das prostaglandinas e, se necessário, antibióticos para tratar a infecção por H. pylori.

Dados os efeitos secundários associados a esses tratamentos, tem havido um interesse crescente na utilização de produtos naturais, entre os quais se destaca o própolis. A composição química da própolis varia de acordo com sua origem geográfica, contendo mais de 300 compostos como polifenóis, terpenóides, esteróides e aminoácidos.

Uma recente revisão sistemática avaliou o impacto da própolis na cicatrização de úlceras gástricas induzidas por AINEs em ratos. Estudos selecionados que examinaram a atividade gastroprotetora da própolis brasileira utilizaram doses de 50, 250 e 500 mg/kg, enquanto a própolis mexicana foi avaliada em doses de 50, 150 e 300 mg/kg, todos utilizando extratos etanólicos. Por outro lado, a própolis dinamarquesa foi avaliada em dose única de 650 mg/kg. Todos os estudos utilizaram indometacina como AINE para induzir ulceração gástrica, administrando-a por via intragástrica ou intraperitoneal.

O estudo liderado por Barros MP et al. descobriu que a própolis verde brasileira reduziu significativamente a ulceração gástrica em ratos machos na dose de 500 mg/kg, após administração oral de indometacina (100 mg/kg) para induzir dano gástrico. Além disso, demonstraram a atividade antissecretora da própolis verde nas doses de 250 e 500 mg/kg, evidenciada pela diminuição do volume do suco gástrico, da acidez total e do pH.

Por outro lado, o estudo liderado por Mendoça et al. relatou que doses de 250 e 500 mg/kg de própolis vermelha foram eficazes na redução da ulceração gástrica induzida pela administração oral de indometacina (100 mg/kg), com percentuais de inibição de 87,34% e 100%, respectivamente. Além disso, identificaram que o flavonoide formononetina, principal componente da própolis vermelha, inibiu 100% da ulceração induzida por dose de indometacina de 10 mg/kg. Os autores atribuíram essa propriedade à capacidade da própolis vermelha e de seu principal componente em reduzir a secreção gástrica, aumentar a produção de muco estomacal e às suas propriedades antioxidantes e anti-Helicobacter pylori.

O estudo liderado por El-Ghazaly MA, que utilizou própolis de uma empresa dinamarquesa, também mostrou atividade gastroprotetora contra úlceras gástricas induzidas por indometacina administrada por via intraperitoneal (10 mg/kg) em ratos expostos e não expostos à radiação ionizante. Neste caso, o pré-tratamento com própolis foi realizado com dose superior em relação aos estudos anteriores. A dose de 650 mg/kg reduziu o número de lesões gástricas, o que foi associado à diminuição da produção de ácido e da atividade péptica, resultados semelhantes aos observados com a própolis brasileira.

Nesta revisão também foi avaliado outro tipo de própolis do norte do México. Ruiz-Hurtado et al. compararam-no com um IBP (omeprazol 20 mg/kg) administrado em diferentes doses orais de própolis mexicana (50, 150 e 300 mg/kg). Foi observado efeito antiúlcera dose-dependente, sendo as doses mais eficazes 150 e 300 mg/kg, que reduziram as lesões gástricas em 89,96% e 96,70%, respectivamente, resultados semelhantes ao efeito do omeprazol (91,69%). Além disso, foi realizada análise histopatológica que demonstrou redução de parâmetros indicativos de danos à mucosa gástrica.

Em resumo, estudos realizados com própolis brasileira, dinamarquesa e mexicana mostraram resultados promissores na redução da infiltração de neutrófilos e dos níveis de citocinas pró-inflamatórias. Este composto é rico em compostos fenólicos como os flavonoides, que têm a capacidade de neutralizar os radicais livres e exercer efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e citoprotetores. No entanto, são necessárias pesquisas em humanos para compreender completamente o efeito dos compostos responsáveis pela atividade gastroprotetora da própolis e determinar seu potencial uso terapêutico.

Referência: Ruiz-Hurtado PA, Garduño-Siciliano L, Domínguez-Verano P, Balderas-Cordero D, Gorgua-Jiménez G, Canales-Álvarez O, Canales-Martínez MM, Rodríguez-Monroy MA. Propolis and Its Gastroprotective Effects on NSAID-Induced Gastric Ulcer Disease: A Systematic Review. Nutrients. 2021 Sep 11;13(9):3169. doi: 10.3390/nu13093169. PMID: 34579045; PMCID: PMC8466107.

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