Alterações dopaminérgicas na Síndrome das Pernas Inquietas estão relacionadas a deficiências de vitamina D e ferro.

A síndrome das pernas inquietas (SPI) é um distúrbio neurossensorial e motor caracterizado pela necessidade imperiosa de movimentar as extremidades, principalmente os membros inferiores, em resposta a sensações desagradáveis que surgem ou se intensificam durante o repouso e no período noturno, sendo geralmente atenuadas pelo movimento. Diversos fatores estão implicados em sua fisiopatologia, incluindo predisposição genética, disfunção dopaminérgica e deficiência de ferro cerebral. A forma secundária da SPI pode ocorrer em contextos como insuficiência renal crônica, anemia ferropriva, gravidez, doenças neurodegenerativas ou uso de determinados medicamentos.

Estudos recentes investigaram a relação entre o estado nutricional e a manifestação da SPI. Uma revisão sistemática publicada em 2025 reuniu 57 artigos que avaliaram essa associação, abrangendo diferentes vitaminas. Desses, 27 abordaram a SPI primária e 30 a SPI secundária, incluindo 12 estudos em gestantes e 8 em pacientes em diálise.

No caso da vitamina D, a meta-análise mostrou que pacientes com SPI apresentaram níveis significativamente mais baixos em comparação aos controles (diferença média [DM] = -3,43; IC 95%: -5,29 a -1,57; p = 0,0003; I² = 92%). Essa redução foi observada tanto na forma primária (DM = -5,41; IC 95%: -9,48 a -1,34; p = 0,009; I² = 96%) quanto na secundária (DM = -1,98; IC 95%: -3,29 a -0,66; p = 0,003; I² = 65%). Além disso, níveis de vitamina D foram mais baixos em pacientes com SPI grave quando comparados a casos leves ou moderados (MD = -3,63; IC 95%: -6,19 a -1,07; p = 0,005; I² = 0%), e indivíduos com concentrações abaixo de 20 ng/mL apresentaram pontuações mais elevadas na escala IRLSSG (MD = 5,95; IC 95%: 0,75 a 11,14; p = 0,02; I² = 96%). A deficiência de vitamina D também foi associada a maior prevalência de SPI (OR = 2,81; IC 95%: 1,87 a 4,24; p < 0,00001; I² = 27%). Esses achados podem estar relacionados ao papel regulador do sistema dopaminérgico, que apresenta receptores em neurônios dopaminérgicos, além da interação entre deficiência de ferro e baixos níveis de vitamina D, potencializando a disfunção dopaminérgica.

Quanto ao folato, a análise conjunta de 25 estudos mostrou que gestantes com SPI apresentaram níveis significativamente mais baixos quando comparadas a gestantes sem SPI (DM = -5,30; IC 95%: -9,11 a -1,48; p = 0,007; I² = 94%). Por outro lado, em mulheres não gestantes, não houve diferenças significativas entre os grupos com e sem SPI (DM = 0,07; IC 95%: -0,24 a 0,38; p = 0,65; I² = 4%). Gestantes com ingestão insuficiente de ácido fólico (<400 mcg/dia) apresentaram maior incidência de SPI em relação às que consumiam quantidades adequadas (OR = 0,55; IC 95%: 0,31 a 0,98; p = 0,04), com risco ainda mais elevado entre as não suplementadas (OR = 0,03; IC 95%: 0,00 a 0,33; p = 0,005).

Para outras vitaminas, como B12 (p = 0,59) e B1 (p = 0,362), não foram observadas diferenças significativas entre pacientes com e sem SPI.

De forma geral, esses resultados indicam que a avaliação dos níveis de vitamina D e folato deve ser considerada na prática ortomolecular aplicada à síndrome das pernas inquietas, sobretudo em populações de maior risco, como gestantes e indivíduos com anemia ferropriva. Intervenções nutricionais direcionadas podem atuar como estratégias adjuvantes na modulação dos sintomas e no suporte à qualidade de vida desses pacientes.

Referência:
Xu XM, Ruan JH, Tao T, Xiang SL, Meng RL, Chen X. Role of vitamins in the pathogenesis and treatment of restless leg syndrome: A systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2025 Mar 10;20(3):e0313571. doi: 10.1371/journal.pone.0313571. PMID: 40063620; PMCID: PMC11892881. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11892881/

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