Suplementação de magnésio e sua influência sobre o perfil lipídico
Os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCV) incluem tabagismo, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia. Entre esses, o controle do perfil lipídico é uma estratégia relevante na abordagem do risco cardiovascular. Do ponto de vista da medicina ortomolecular, investiga-se a utilização de determinados nutrientes, como o magnésio, por seu possível papel na modulação do metabolismo lipídico, especialmente em parâmetros como LDL-C, HDL-C, triglicerídeos (TG) e colesterol total (CT).
O magnésio participa da regulação de diversas enzimas envolvidas na homeostase lipídica, como a lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT), a lipoproteína lipase e enzimas dessaturases. Também pode interferir na atividade da HMG-CoA redutase e na sinalização da insulina, sugerindo uma função fisiológica no equilíbrio do perfil lipídico.
Uma revisão sistemática com meta-análise publicada em 2025 incluiu 27 estudos randomizados. As doses de magnésio variaram de 20 a 548 mg por dia, com diferentes formulações utilizadas (como citrato, cloreto, óxido, pidolato, bicarbonato, sulfato, hidroxila, aspartato e lactato de magnésio), e duração das intervenções de 4 a 24 semanas.
Os participantes incluíram indivíduos com condições metabólicas diversas: síndrome metabólica (3 estudos), diabetes (9), obesidade ou sobrepeso (3), pré-diabetes (3), síndrome dos ovários policísticos (2), doença arterial coronariana moderada (1), doença hepática gordurosa não alcoólica (1), indivíduos eutróficos com obesidade metabólica (1) e hipertensão leve a moderada (1).
Em relação ao perfil lipídico, a meta-análise encontrou efeito significativo da suplementação de magnésio sobre os níveis de HDL-C. Houve aumento médio de 1,21 mg/dL (IC 95%: 0,58 a 1,85; p < 0,001) em comparação ao controle.
Na análise por subgrupos, esse aumento foi mais evidente em indivíduos com condições metabólicas (WMD = 1,32 mg/dL; IC 95%: 0,52 a 2,12; p = 0,001), mas não foi observado em indivíduos saudáveis (WMD = 0,34 mg/dL; IC 95%: -2,08 a 2,75; p = 0,785). O efeito também foi significativo em estudos com ambos os sexos (WMD = 1,65 mg/dL; IC 95%: 0,86 a 2,44; p < 0,001), em intervenções com doses ≥ 300 mg/dia (WMD = 2,02 mg/dL; IC 95%: 1,23 a 2,81; p < 0,001), e em tratamentos com duração ≥ 84 dias (WMD = 1,49 mg/dL; IC 95%: 0,79 a 2,19; p < 0,001). Em participantes com HDL-C basal < 43 mg/dL, o aumento também foi significativo (WMD = 1,76 mg/dL; IC 95%: 0,78 a 2,73; p < 0,001).
Por outro lado, não foram observadas alterações significativas nos níveis de LDL-C, triglicerídeos ou colesterol total. Essa ausência de efeito pode estar relacionada à homeostase do magnésio em indivíduos com níveis adequados, à rápida excreção renal do excesso, à possível influência de função renal comprometida em alguns grupos (como pacientes em hemodiálise), à variabilidade da biodisponibilidade das formulações e à duração da intervenção.
Em síntese, os dados analisados indicam que a suplementação de magnésio pode estar associada a alterações específicas no HDL-C em determinados contextos clínicos. Contudo, sua utilização como estratégia complementar requer mais investigação para elucidar seu impacto no conjunto dos parâmetros lipídicos e estabelecer diretrizes clínicas claras.
Referência
Hariri M, Sohrabi M, Gholami A. The effect of magnesium supplementation on serum concentration of lipid profile: an updated systematic review and dose-response meta-analysis on randomized controlled trials. Nutr J. 2025 Feb 4;24(1):24. doi: 10.1186/s12937-025-01085-w. PMID: 39905454; PMCID: PMC1179609
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1179609/