Melhorias na saúde ocular com suplementação de vitamina D em pacientes com Doença de Olho Seco
A doença do olho seco (DOS) é uma das condições oculares mais frequentes, com uma prevalência global estimada entre 5% e 50%. Trata-se de uma condição multifatorial da superfície ocular, caracterizada pela perda da homeostase do filme lacrimal, levando à instabilidade do filme, hiperosmolaridade, inflamação e alterações na superfície ocular. Os sintomas comumente relatados incluem secura, vermelhidão, sensação de corpo estranho, peso, dor, fotofobia, corrimento, prurido e fadiga ocular. Em estágios iniciais, a acuidade visual pode permanecer preservada, mas em estágios mais avançados pode haver alterações significativas, como disfunção epitelial da córnea, adelgaçamento e ulceração, com repercussões na função visual. Além disso, a DOS pode impactar a qualidade de vida, interferindo na produtividade e estando associada a sintomas de ansiedade e depressão.
O manejo da DOS deve ser proporcional à gravidade da condição, considerando fatores como disfunção da glândula meibomiana, inflamação ocular e possíveis condições sistêmicas relacionadas. A utilização de lágrimas artificiais é frequentemente adotada como abordagem inicial para alívio temporário dos sintomas. No entanto, o uso prolongado de medicamentos anti-inflamatórios pode estar associado a efeitos adversos, como aumento da pressão intraocular, formação de cataratas e maior risco de infecções oculares com o uso contínuo de corticosteroides tópicos.
Na abordagem ortomolecular, é relevante considerar tanto a inflamação quanto os desequilíbrios imunológicos relacionados à DOS. Nesse contexto, a vitamina D tem sido objeto de investigação devido ao seu papel na modulação de processos imunológicos e inflamatórios, que podem estar envolvidos no desenvolvimento da condição. A deficiência sérica de vitamina D tem sido associada à metaplasia escamosa conjuntival e à perda de células caliciformes na superfície ocular, o que compromete a qualidade do filme lacrimal e a molhabilidade da superfície ocular. Essa deficiência também pode intensificar a inflamação ocular em pacientes com DOS crônica, alterando características epiteliais e promovendo alterações na camada de Bowman, associadas a sintomas como dor ocular, sensação de corpo estranho e queimação. A desregulação imunológica também pode afetar a percepção de alterações nas fibras nervosas da córnea, contribuindo para o desconforto ocular relatado pelos pacientes.
Diversos estudos observaram efeitos positivos em parâmetros clínicos e sintomas da DOS após a suplementação com vitamina D. Uma meta-análise recente incluiu três ensaios clínicos randomizados e cinco estudos caso-controle, totalizando 439 pacientes. Os períodos de acompanhamento variaram de duas semanas a seis meses. Seis estudos utilizaram suplementação oral de vitamina D (quatro com 2.000 UI diárias e um com 50.000 UI semanais), dois utilizaram injeções intramusculares (200.000 UI) e um utilizou spray oral (2.000 UI diárias).
A análise agrupada dos sete estudos mostrou melhora estatisticamente significativa na secreção lacrimal pelo teste de Schirmer (SMD = 1,43; IC 95%: 0,81–2,05). Também foi observada melhora na estabilidade do filme lacrimal (SMD = 1,19; IC 95%: 0,83–1,55). Além disso, houve redução nos escores do questionário OSDI (SMD = -1,10; IC 95%: -1,45 – -0,74), que avalia sintomas, qualidade de vida e fatores ambientais relacionados à visão.
Em relação ao escore de coloração com fluoresceína corneana (CFSS), três estudos demonstraram uma redução (SMD = -0,22; IC 95%: -0,37 – -0,08), sugerindo melhora na integridade da barreira corneana. Da mesma forma, os níveis de hiperemia palpebral foram mais baixos (SMD = -0,71; IC 95%: -1,09 – -0,32) e a intensidade da dor ocular apresentou redução (SMD = -0,32; IC 95%: -0,47 – -0,18).
Em síntese, os dados disponíveis indicam que a suplementação com vitamina D está associada a melhorias em parâmetros clínicos e sintomas em pacientes com doença do olho seco. Observou-se redução de sinais inflamatórios, como hiperemia palpebral, e de sintomas como dor e desconforto visual.
Referência:
Chen Z, Zhang C, Jiang J, Ouyang J, Zhang D, Chen T, Chu Y, Hu K. The efficacy of vitamin D supplementation in dry eye disease: A systematic review and meta-analysis. Cont Lens Anterior Eye. 2024 Oct;47(5):102169. doi: 10.1016/j.clae.2024.102169. Epub 2024 Jul 18. PMID: 39025755.
https://www.contactlensjournal.com/article/S1367-0484(24)00061-4/fulltext