Suplementação com Magnésio na Dor Muscular em Diferentes Tipos de Atividades Físicas

O magnésio (Mg) é um cátion intracelular fundamental e o quarto mineral mais abundante no corpo humano. Trata-se de um nutriente simples e essencial, com papel crucial em diversas funções fisiológicas, especialmente na contração muscular, produção de energia celular e regulação da glicose. Após a atividade física, o magnésio armazenado no líquido extracelular é rapidamente transferido para os tecidos que mais necessitam, destacando sua importância na recuperação muscular e no funcionamento adequado do organismo após o exercício.

Na medicina ortomolecular, reconhece-se que uma deficiência crônica de magnésio pode afetar significativamente o metabolismo, especialmente em contextos de exercícios prolongados. A redução dos níveis de magnésio, tanto no plasma quanto nos eritrócitos, observada após treinamentos intensivos, indica que esse tipo de esforço físico aumenta a demanda por esse mineral. Em especial, a hipomagnesemia é comum após exercícios intensos e prolongados, enquanto, em sessões breves, mas intensas, pode-se observar hipermagnesemia. A queda na concentração de magnésio pode prejudicar o metabolismo da glicose. Durante o exercício, a hipomagnesemia também pode levar ao aumento do estresse glicêmico, resultando em menor desempenho, maior acúmulo de lactato e aumento da dor muscular, além de contribuir para danos ultraestruturais ao tecido muscular.

É importante destacar que, mesmo com níveis séricos de magnésio dentro da normalidade, os atletas podem apresentar dor muscular devido à deficiência intracelular do mineral. Isso indica que a dosagem plasmática isolada não é suficiente para avaliar sua real disponibilidade no organismo. Além disso, atletas frequentemente não seguem dietas adequadas quanto à ingestão de minerais, como o magnésio, o que pode impactar negativamente o desempenho e a qualidade do treinamento.

Do ponto de vista do sexo biológico, as flutuações hormonais nas mulheres – especialmente as variações nos níveis de estrogênio e progesterona – também influenciam a disponibilidade de magnésio. Esses hormônios regulam o metabolismo proteico e o processo de recuperação muscular, ambos diretamente ligados ao desempenho esportivo. Estudos demonstram que as concentrações de magnésio são mais baixas durante a fase folicular do ciclo menstrual, aumentando na fase lútea. Assim, pode ser necessário um aumento na ingestão de magnésio durante a fase folicular.

Embora as evidências sobre os efeitos do magnésio no desempenho esportivo ainda sejam limitadas, estudos sobre a suplementação com esse mineral têm apresentado resultados promissores na redução da dor muscular e na prevenção de danos musculares, embora existam variações nas doses e nas formas utilizadas.

Uma revisão sistemática publicada em julho de 2024 analisou quatro estudos com um total de 73 participantes (60 homens e 13 mulheres, com idades entre 19 e 27 anos), focando nos efeitos da suplementação com magnésio (MgS) sobre a dor muscular, o desempenho e a recuperação. Um dos estudos avaliou dor muscular e desempenho em exercícios excêntricos de supino, enquanto os demais abordaram atividades como corrida e esportes coletivos.

No primeiro estudo, 22 participantes (9 homens e 13 mulheres) realizaram exercícios de supino excêntrico para induzir dor muscular e receberam 350 mg diários de glicinato de magnésio. Os resultados mostraram redução significativa da dor nas 24, 36 e 48 horas após o exercício, além de melhora na percepção de recuperação. Esse achado sugere que o glicinato de magnésio pode ser eficaz para mitigar a dor muscular induzida por exercícios de alta intensidade.

Outro estudo, com 9 corredores recreativos do sexo masculino e com dieta pobre em magnésio, avaliou o uso de 500 mg diários de óxido de magnésio durante uma corrida de 10 km. Os participantes suplementados apresentaram redução significativa nos níveis de IL-6 (marcador inflamatório) e relataram menos dor muscular. Também houve melhora na recuperação glicêmica, indicando efeitos benéficos do óxido de magnésio na resposta ao estresse do exercício e à inflamação.

No contexto dos esportes coletivos, um estudo com 12 jogadores de handebol de elite suplementados com 400 mg diários de lactato de magnésio demonstrou prevenção da queda dos níveis séricos de magnésio ao longo da temporada. Embora não tenham sido observadas mudanças significativas nos marcadores clássicos de dano muscular, os níveis de creatinina – marcador de função renal e muscular – diminuíram na metade da temporada, sugerindo melhora na função muscular.

Por fim, um estudo com ciclistas profissionais durante uma competição de 21 dias observou que a suplementação com 400 mg diários de magnésio (forma não especificada) resultou em menor aumento nos níveis de mioglobina, um marcador de dano muscular, quando comparado ao grupo controle. Isso sugere que o magnésio pode exercer efeito protetor contra danos musculares induzidos por esforços prolongados e intensos.

Em resumo, os estudos indicam que a suplementação com magnésio, em doses entre 350 mg e 500 mg por dia, e em formas como glicinato, óxido ou lactato, pode ser eficaz na redução da dor muscular e na melhora da recuperação em atletas de diferentes modalidades, protegendo o tecido muscular dos danos induzidos pelo exercício físico intenso ou prolongado.


Referência:

Tarsitano MG, Quinzi F, Folino K, Greco F, Oranges FP, Cerulli C, Emerenziani GP. Effects of magnesium supplementation on muscle soreness in different type of physical activities: a systematic review. J Transl Med. 2024 Jul 5;22(1):629. doi: 10.1186/s12967-024-05434-x. PMID: 38970118; PMCID: PMC11227245.

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