Suplementação com vitamina D e recorrência de vertigem posicional paroxística benigna

A vertigem é definida como a percepção ilusória de movimento na ausência de deslocamento real. A vertigem posicional refere-se especificamente à sensação de giro desencadeada por mudanças na posição da cabeça em relação à gravidade. A vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) é uma das formas mais comuns dessa condição, caracterizada por episódios recorrentes e transitórios de vertigem provocados por alterações posturais. O termo “benigna” indica que a condição não está associada a lesões graves do sistema nervoso central, o que confere a ela um bom prognóstico.

A VPPB pode impactar significativamente a qualidade de vida, especialmente entre idosos, grupo em que o risco de quedas é aumentado. A limitação da mobilidade e a insegurança associada aos episódios de vertigem também contribuem para o desenvolvimento de quadros depressivos e isolamento social.

Diversos estudos identificaram fatores de risco associados à recorrência da VPPB, incluindo doenças otológicas preexistentes, como a Doença de Ménière, traumatismos cranianos e condições médicas como hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus. A deficiência de vitamina D e a osteoporose também têm sido implicadas como fatores relevantes, não apenas no surgimento inicial da VPPB, mas também na sua recorrência, o que destaca a necessidade de uma abordagem abrangente e preventiva.

A vitamina D, em particular, parece ter um papel importante na fisiologia vestibular. Sabe-se que a otocônia — partículas de carbonato de cálcio presentes no utrículo e sáculo do ouvido interno — depende de processos metabólicos regulados em parte pela vitamina D. A deficiência dessa vitamina pode comprometer a integridade dessas estruturas, favorecendo o deslocamento otoconial e a ocorrência de VPPB. Um estudo realizado por Jeong et al. observou concentrações significativamente mais baixas de 25(OH) vitamina D em pacientes com VPPB (14,4 ± 8,4 ng/mL) em comparação com indivíduos controles (19,0 ± 6,8 ng/mL).

Além disso, sugere-se que a VPPB compartilha possíveis fatores etiológicos com outras condições otoneurológicas, como a perda auditiva súbita, paralisia facial idiopática e neurite vestibular, podendo todas estar ligadas a infecções virais e subsequente resposta autoimune ou inflamatória. Esses achados reforçam a hipótese de que, além dos fatores metabólicos, há uma participação relevante de processos inflamatórios e imunológicos na fisiopatologia da VPPB.

Em fevereiro de 2024, uma revisão sistemática avaliou diversos estudos sobre os níveis séricos de vitamina D em pacientes com VPPB. Os níveis médios de vitamina D observados nos pacientes variaram de 17,1 a 31,4 ng/mL, e foi identificada uma diferença estatisticamente significativa em comparação com indivíduos sem a condição. Três estudos incluídos analisaram pacientes com VPPB recorrente e identificaram níveis de vitamina D consistentemente mais baixos nesse grupo, em comparação com aqueles sem recorrências.

Quanto à suplementação com vitamina D, cinco estudos analisaram seus efeitos em pacientes com VPPB, sendo que quatro deles demonstraram eficácia na redução da taxa de recorrência. As doses utilizadas variaram amplamente, incluindo:

  • 400 UI de vitamina D + 500 mg de carbonato de cálcio, duas vezes ao dia por um ano;

  • 16.000 UI de colecalciferol oral, uma vez por semana durante 8 a 10 semanas;

  • 25.000–50.000 UI de colecalciferol, uma vez por semana;

  • 7.000 UI diárias por dois meses;

  • 800 UI diárias por seis meses.

Em todos esses protocolos, os grupos que receberam suplementação apresentaram taxas significativamente menores de recorrência da VPPB em comparação com os grupos controle. Ainda assim, permanece incerta a superioridade da combinação de vitamina D com cálcio em relação à monoterapia com vitamina D.

Estudos experimentais também indicam que a vitamina D pode influenciar não apenas o metabolismo ósseo, mas também a manutenção das otocônias, embora os mecanismos exatos ainda não estejam completamente elucidados.

Conclusão

A evidência atual sugere que a deficiência de vitamina D está associada à recorrência da VPPB e que a suplementação pode representar uma estratégia eficaz para sua prevenção. Contudo, são necessários mais estudos controlados e randomizados para estabelecer as doses ideais, a duração do tratamento e os mecanismos subjacentes de ação da vitamina D no sistema vestibular.

Referência
Rhim G, Kim MJ. Vitamin D Supplementation and Recurrence of Benign Paroxysmal Positional Vertigo. Nutrients. 2024 Feb 28;16(5):689. doi:10.3390/nu16050689. PMID: 38474817; PMCID: PMC10934290.

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